5 de fevereiro de 2010

Moradores de Rua - Campinas - Exemplo a ser seguido BRASIL.

Por Nailson Jr


Fonte:http://www.puccamp.br/servicos/detalhe.asp?id=36921
Do Clipping Eletrônico - Departamento de Comunicação, PUC-Campinas

Ação solidária distribui calor humano

26/06/2008



Cerca de 20 voluntários percorrem a cidade oferecendo sopa, leite quente, agasalhos e cobertores a moradores de rua





A ação Amizade no Inverno, realizada pelo Grupo da Amizade — casa de apoio a portadores de HIV/Aids —, levou, pelo sétimo ano consecutivo, um pouco de conforto e calor humano aos moradores de rua de Campinas na madrugada de ontem.

Cerca de 20 voluntários, entre coordenadores, funcionários e usuários da instituição, percorreram as ruas da cidade oferecendo sopa e leite quente, agasalhos e cobertores às centenas de pessoas em situação de rua. “Não temos como abrigar todos, então nos mobilizamos para amenizar um pouco a situação, trazendo alimentos e proteção contra o frio”, disse Fernando Bueno, um dos organizadores da ação.

“Estou há 12 anos na rua. Desde que saí da cadeia e minha família não quis mais saber de mim. A sopa ajuda a encarar o frio”, resumiu Luciano de Lima, de 26 anos, natural da Paraíba e que vive na praça da Catedral Metropolitana junto com pelo menos 30 outras pessoas. Fábio de Souza Nunes, de 28 anos, disse que veio há alguns dias de Mogi das Cruzes em busca de trabalho, mas só conseguiu um bico como ajudante na feira de artesanato nos fins de semana. “O que ganho não dá para pagar uma pensão. A alternativa é ficar na rua”, lamentou, citando que logo que chegou teve as roupas e documentos roubados. “A ajuda dos voluntários é muito importante para quem está na rua”, disse.

Fernanda Gouveia, de 42 anos, que vive atualmente na Casa da Amizade, estava emocionada por ajudar os moradores de rua. “Já passei por isso. Era alcoólatra, usava drogas e vivia nas ruas. No Inverno, o que já é ruim fica ainda pior”, afirmou. Ela hoje trabalha como faxineira e faz bordados.

“Viver na rua é triste demais. Enfrentei essa situação quando meus pais morreram. Depois, na casa, encontrei uma família, novos irmãos. É muito bom poder ajudar quem está nessa situação”, disse o travesti que se identificou apenas como Maria, de 42 anos. Paulo Rogério, de 29 anos, também enfrentou a vida nas ruas devido à dependência de drogas. “Perdi emprego, família, tudo. Mas queria sair das ruas. Já tive uma vida antes e queria recuperar. Aí procurei o albergue e depois fui encaminhado para a Casa da Amizade, onde estou há dois meses e meio”, contou.

Iniciativa

A idéia da ação Amizade no Inverno partiu do presidente da instituição, Cassemiro Lopes Moreira, o Miro, ele próprio ex-morador de rua que conseguiu dar a volta por cima. Em sua sétima edição, a ação solidária é desenvolvida em parceria com os restaurantes Barbacoa e Giovannetti Parque D. Pedro, com apoio do Centro de Referência em DST/Aids de Campinas. “Os restaurantes doam os ingredientes, a cozinheira da casa prepara a sopa e leite quente, e funcionários e moradores se encarregam de distribuir. Os cobertores e agasalhos arrecadamos em campanhas com a comunidade”, explicou o coordenador de Projetos, José Carlos Morais da Silva.

Segundo ele, a ação de ontem, acompanhada pela reportagem da Agência Anhangüera de Notícias (AAN), atendeu cerca de 160 pessoas. “Levamos 200 copos para distribuição da sopa e sobraram uns 40”, disse Silva. A ação também distribuiu os quase cem cobertores e igual número de agasalhos disponíveis. “Estamos iniciando nova campanha de arrecadação de agasalhos e cobertores e, na semana que vem, repetimos a ação”, adiantou.


Em Campinas, ao menos 1.027 vivem nas ruas

Pesquisa divulgada em abril pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome apontou que pelo menos 1.027 pessoas vivem nas ruas em Campinas. O município ocupa a sétima posição no ranking de cidades com maior número de moradores de rua no Brasil, sem considerar São Paulo, Belo Horizonte e Recife, que não entraram no censo. Segundo a coordenadora municipal de Acolhimento e Referenciamento Social (Sares), Cátia Gonçalves da Silva, 80% deles são dependentes químicos, especialmente de álcool. No Inverno, uma equipe do Sares aborda os moradores de rua para encaminhar os que necessitam ou querem aos serviços de apoio e suporte, como abrigos, albergue, serviços de saúde e tratamento para dependência química. A maioria recebe os agasalhos, alimentos e cobertores, mas não quer ir para o albergue, que funciona no Serviço de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Mendicante (Samim).

O local tem capacidade para 150 pessoas e recebe para pernoite, além de oferecer refeições (café da manhã, almoço, lanche e jantar). O serviço é transitório, por cinco dias, que podem ser estendidos conforme a situação. A Prefeitura mantém ainda o abrigo municipal, com capacidade para 15 homens e cinco mulheres, e uma casa para idosos, com 12 vagas. Além do poder público, grupos religiosos também acolhem moradores de rua, seja em casas de recuperação para dependência química, ou ofertando roupas, cobertores e alimentos. Em parceria com o poder público, que cedeu o imóvel, cinco grupos religiosos (Nossa Senhora Desatadora dos Nós, Aliança Amor, Centro Espírita Luz e Caminho, Igreja Batista Central e Grupo Felicidade) oferecem sopa de segunda a sexta-feira e almoço aos sábados para moradores de rua numa casa no Viaduto Miguel Vicente Cury. (DM/AAN)


Usuária de drogas recusa ajuda da família

Jovem rompeu com parentes por causa do vício e agora vive embaixo de viaduto com outras pessoas

Margarete Rodrigues dos Santos, de 22 anos, vive nas ruas desde os 18. Primeiro alegou que foi abandonada pela família e, em seguida, assumiu que rompeu com os parentes devido ao uso de drogas. Ela mora atualmente com um grupo embaixo do viaduto da Via Expressa Waldemar Paschoal sobre a Francisco Glicério e nem quer ouvir falar de voltar a viver com a família. “Prefiro ficar na rua. Sou mais feliz assim”, afirmou. Apesar de desconfiada e aparentemente sob efeito de drogas, Margarete foi a única dos moradores de rua do local que se preocupou em agradecer a ajuda do Grupo Amizade. “Graças a Deus vocês vieram. Muito obrigada, Deus abençoe”, disse. “Só sobrou eu para falar isso”, completou.

A técnica em enfermagem da Casa da Amizade, Alezandra Lima, contou que já cuidou de Margarete após um acidente grave, quando fazia estágio no Pronto-Socorro do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti. “Ela chegou sob efeito de drogas, com os dois braços e bacia quebrados e com surto de abstinência. Tão agitada que mordia as mãos dos enfermeiros e técnicos”, contou.

Segundo Alezandra, o serviço social do hospital localizou a família, em Londrina, a mãe veio até Campinas e tentou levá-la para casa, mas a jovem se recusou. “Uma irmã que mora aqui, no Jardim Florence, também tentou levá-la, mas não conseguiu.” Alezandra disse que a ação solidária torna-se uma mistura de sentimentos. “É bom ajudar os outros, dá uma sensação de dever cumprido. Mas ver esta menina, por exemplo. Saber que os pais querem resgatá-la e ela não quer, é deprimente”, disse. (DM/AAN)


A FRASE

“Prefiro ficar na rua. Sou mais feliz assim.”

MARGARETE RODRIGUES DOS SANTOS
Moradora de rua


Autor: Delma Medeiros delma@rac.com.br
Fonte: Correio Popular

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